26 de Julho de 2014 às 17:00

'Atual sistema divide trabalhadores em vencedores e perdedores', diz Heloani -

16ª Conferência Nacional dos Bancários-

Para Roberto Heloani, especialista em organização do trabalho, professor da Unicamp e da Fundação Getúlio Vargas, a política e a forma das empresas de estabelecerem metas e remuneração variável trazem consigo os principais fatores responsáveis pelo assédio moral, que toma conta do mundo do trabalho atualmente. Heloani falou no painel sobre Condições de Trabalho e Remuneração, no primeiro dia da 16ª Conferência Nacional dos Bancários, que está sendo realizada em Atibaia.

Veja aqui a entrevista de Roberto Heloani e outros palestrantes sobre condições de trabalho

http://www.youtube.com/v/gP29RnruWFQ?hl=pt_BR

Segundo ele, as formas como as empresas impõem a remuneração variável está causando a destruição do coletivo de trabalho, porque faz com que um grupo torça para que os outros grupos não se saiam bem. "Esse sistema esquadrinha os líderes e os losers, divide os trabalhadores em vencedores e perdedores. O sucesso só é possível mediante o fracasso do semelhante", denuncia.

Problema não é o indivíduo, mas a organização

Isso também leva a uma visão equivocada de que é o indivíduo e não a organização que produz o assédio moral. Ele faz uma alerta para sindicalistas e líderes dos trabalhadores para que não caiam nesse raciocínio. "Não adianta trocar as pessoas. Muda-se o gerente, por exemplo, e dali a algum tempo o assédio volta a acontecer, porque a responsável é a instituição e não o indivíduo."

As metas abusivas para a venda produtos leva ao sofrimento do trabalhador que muitas vezes é obrigado a abrir mão de valores ético-políticos, ao ter que, por exemplo, empurrar produtos aos clientes: "Tratam a todos os empregados como sendo pessoas sem caráter, para os que têm caráter isso causa um grande conflito", destaca.

Heloani destaca também que a ideologia do produtivismo, em que a meta alcançada eleva o patamar da próxima, afeta a saúde mental, causa depressão e outros transtornos psíquicos: "O trabalho passa a ter uma dimensão virtual, o trabalhador não consegue perceber a os benefícios de seu trabalho para a sociedade".

A corrida por resultados precariza as relações de trabalho

Ainda no painel que tratou das Condições de Trabalho e Remuneração, o professor Ademar Orsi, doutor em Administração de Empresas pela FEA/USP, destacou as mudanças na organização do trabalho desde a década de 1970 e a administração atual das empresas regida pelo sistema financeiro.

"As empresas hoje querem resultados em curto prazo, o que gera uma precarização das relações de trabalho. A lógica do mercado tem efeito sobre a gestão da organização da empresa, que enxuga ao máximo o seu investimento, nos trabalhadores, por exemplo, para remunerar os acionistas, que simplesmente colocaram dinheiro no negócio e querem seu retorno rápido", explicou o professor.

Ademar Orsi também reforçou, a partir de estudos acadêmicos, os problemas que trabalhadores, em especial os bancários, vivem no dia a dia, como a cobrança dos bancos por metas inalcançáveis, sem participação na definição do processo e organização do trabalho.

"A exigência é cada vez maior por qualificação do trabalhador. Não é a empresa que deve trazer solução, mas o funcionário. Isso também influencia nas negociações do trabalhador com a empresa. O trabalhador já tem que vir preparado para o mercado de trabalho," ressaltou Ademar Orsi

'Algema de ouro'

Outro problema levantando pelo professor é como as organizações empresariais vêm usando a disputa dos funcionários como método para alcance de resultados.

"As organizações acabam levando a relação entres trabalhadores para o lado negativo, com uma competição muito forte. O empregado deve entregar resultados ou vai se frustrar. O que acaba gerando assédio moral e riscos para os indivíduos", afirma o professor.

Para Ademar Orsi, a remuneração variável dos trabalhadores, formada por comissões sobre vendas, prêmios por produção e outras formas similares, poderiam ser usadas pelas empresas de maneira mais saudável, com participação dos trabalhadores.

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